domingo, 27 de novembro de 2016

Parte final - Cuba

Continuação. Parte 3 - Final

Havana, Cuba - O aeroporto José Martí fica a uns 18 km ao sul da cidade, por uma pista dupla. Tomei um táxi até o Hotel Deauville, no Malecón. Este hotel tem um barzinho legal que se acessa descendo uma escada para o subsolo, onde se pode beber uma Tropi-Cola, a Coca-Cola local.
Fiquei em um apartamento lateral quase de esquina, em um andar alto. Uma das primeiras coisas que notei foi o aspecto da água da torneira, que sai esbranquiçada e que quase não faz espuma ao se ensaboar. Para fazer a barba, por exemplo, a espuma vira uma coisa aguada, sem abundância, muito escorrida. Presumo que isso seja em consequência da água da ilha, toda ela de origem em substrato carbonático, dando uma característica alcalina à água e causando essa impossibilidade de fazer espuma e deixando o cabelo meio duro. Já havia notado isso em Mérida.
Ao caminhar pela cidade, reparei que os prédios são muito mal cuidados. Não senti perigo em caminhar sozinho pelas ruas, conforme já haviam me informado no hotel. O que acontece é que alguns adolescentes te seguem e pedem “Dá-me la hora”, como uma forma de abordagem ao turista gringo. Depois vem a segunda parte da abordagem: “Quieres cambiar? ” Isto ocorria com uma certa frequência irritante. As vezes querem te dar algo em troca dos teus tênis, ou pela camiseta...
Caminhando perto do hotel passei por uma placa na fachada de uma casa velha: Comitê de Apoio a Revolução. Resolvi entrar para saber o que era. Conheci alguns senhores e senhoras (dona Ana), todos de mais idade, e ficamos conversando. Fui convidado para ir à tarde, no lançamento de um livro do Comandante Blas Rocas, às 17 hs no Hospital Central.  Dei uma passeada pela cidade, fui ao Museo de la Revolución e, próximo à hora marcada, fui para a tarde de autógrafo. Era no saguão do hospital. Consegui apertar a mão do autor, após a dona Ana ter me visto na multidão e me carregado até ele para me apresentar como um brasileiro em Cuba. Ele se virou para me ver, apertou minha mão e voltou à sua conversa. Alguns discursos, aplausos e filas. Quando iniciaram a venda do livro, uma correria, a fila se desfez e logo se formou outra fila. A bagunça estava grande e informaram que a venda seria fora do saguão, para não atrapalhar o hospital. Nova correria, nova bagunça, fura-filas, etc, até que, as 18:30 desisti do livro e fui embora. Deveria ter ficado pra ver no que iria dar...
 Combinei com um taxista uma corrida para conhecer as praias a leste de Havana, até a região de Alamar, que era um projeto residencial operário em blocos de edifícios ao estilo das superquadras de Brasília, porém bem densos e sem os espaços verdes. O motorista me levou até a Playa del Este, com belas residências de veraneio, talvez da era pré-revolucionária. Ele afirmou que se podia alugar aquelas casas para se passar alguns dias.
No dia seguinte (25/4) fui até a casa de Hemingway, a Finca Vigia, em San Francisco de Paula, uns 12 km a SE do centro de Havana. O que eu fiz para chegar até lá foi uma coisa totalmente fora do padrão normal para os turistas. Tomei um ônibus perto do Capitólio, a linha 7, passagem a 10 centavos. Durante a viagem, conversei com algumas pessoas perguntando em que ponto descer para conhecer a casa de Hemingway. Havia muitos estudantes que foram bastante receptivos. Um me perguntou se eu não gostaria de conhecer sua irmã, dizendo que eu poderia então trocar com ele alguma calça jeans, ou os tênis. Agradeci o convite. Depois de uns 30 minutos de viagem, chega-se a um bairro que parece uma cidade do interior.  O ônibus me deixou em uma avenida de mão dupla a uns 300 m da entrada da finca, por onde se chega através de mais uns 50 metros. Nesse dia a casa, muito bem conservada, estava quase vazia de turistas. É um local muito simpático, uma casa bem iluminada, com portas grandes dando para a frente e para os fundos. Se imaginarmos isso nos anos 50, com os filhos, as visitas e os empregados, deveria ser um lindo local para passar férias. A finca ocupa uns três hectares bem arborizados, com a casa principal no ponto mais alto do terreno e um casarão lateral, de madeira, para hóspedes. Ao lado da casa foi construída uma torre com uma sala ou escritório no alto, onde Hemingway subia para escrever.
No domingo (26/4) a TV informou da morte de Blas Roca Calderio e mostrou imagens da cerimonia em sua homenagem, na Plaza de la Revolución. Muita gente, pessoas acima de 30-35 anos. Não se vê a juventude, que me parece não estar tão interessada na revolução ou nos revolucionários.
Passeando pelo centro da cidade, fui conhecer a Copélia, a famosa sorveteria de Havana. Fica no centro da praça em frente ao Habana Libre, o antigo Hotel Hilton da era pré-revolução. Na sorveteria é assim: primeiro se compra o tíquete em umas cabines espalhadas pela praça. Depois entra-se na sorveteria e se espera na fila atrás de alguém que está sentado ao balcão tomando sorvete. O atendente somente recebe o pedido quando chega a sua hora de sentar. Depois que ele atende o cliente sentado, ele não se adianta para receber o pedido de quem está atras, para adiantar o expediente. Essa seria a maneira de atender mais gente ao mesmo tempo, como seria na pressa do sistema capitalista que estamos acostumados. Quando chegou minha vez, pedi 3 bolas – fresa, chocolate e crema. O sorvete não é nenhuma maravilha...
Em Cuba existem 2 tipos de táxi, os comuns e os especiais para turistas. Estes aceitam pagar a corrida com dólares. Se não houver um especial parado no hotel, rapidamente chamam algum por rádio, parecendo as vezes que não querem que o turista pegue o comum e se misture muito com os locais. Durante o dia eles usam a bandeirada 3 e à noite usam a bandeira 4. As bandeiras 1 e 2 são para os cubanos. As moedas aceitas nas Tiendas Intourist são o dólar ou o Peso Turista, que é equivalente ao dólar e diferente do peso que a população usa normalmente. Peguei um táxi do Havana Libre até o Capitólio e deu 1,5 dólares. O motorista não tinha troco para 2 dólares e disse que me entregaria mais tarde no hotel. Não acreditei muito no papo do cara, mas quando retornei ao hotel o troco estava lá.
Estava na escadaria da Universidade de Havana, no centro da cidade, e percebi que alguém me seguia e logo me abordou. Me falou que era professor na universidade e que estava para casar. Perguntou se eu poderia comprar para ele uma garrafa de um licor importado, vendido somente nas lojas para turistas que havia nos hotéis, onde os cubanos não entram. Em troca ele me daria umas fitas com músicas cubanas. Gostei da proposta e combinei que iria até o Hotel Colina, ali na frente, e compraria o licor na Tienda Turistica do hotel. Na volta estendi o pacote para ele e ele falou assustado para eu não lhe entregar o pacote, pois alguém poderia ver. Me pediu para segui-lo até seu carro, mas, segundo ele, não poderíamos caminhar lado a lado. Eu o segui, subindo a ladeira à direita da universidade. Lá em cima, dobrou à direita, sempre um metro na minha frente. Já estava achando aquilo meio ilógico, mas continuei seguindo até ele subir as escadas de um monumento. Quem, diabos, estacionaria em um monumento? Comecei a desconfiar que havia caído no golpe da garrafa e que não havia nenhum carro, nenhuma fita. Ele me pediu a garrafa e começou a chamar por alguém inexistente por ali, então eu falei que havia sido enganado e tal. Ele falou que não, que en nombre de la amistad cubano-brasileña... Está bem, fique com essa garrafa em nome da amizade cubano-brasileira, eu falei. Fui embora e ele ficou com o licor.
Outra abordagem muito frequente pelas ruas de Havana eu já citei antes. É feita normalmente por 2 ou 3 adolescentes, que ficam te olhando e cochichando. Aos poucos se aproximam e pedem: Dá-me la hora, para você informar que horas são. A resposta mapeia o sujeito que não é nativo na língua, além de ser uma forma de puxar assunto. Aí vem a segunda pergunta: Quieres cambiar?, perguntando se o sujeito quer trocar seus dólares pelas taxas do mercado negro, mais favoráveis ao turista. Como eu nunca aceitei trocar moedas, sempre vinha a terceira pergunta, querendo saber se o turista trocaria os jeans, os tênis ou a camiseta. Depois de várias abordagens desse tipo, numa delas disse que aceitava trocar a camiseta e ameacei tira-la no meio da rua. Os garotos ficaram apavorados e disseram No, aqui, no! Aqui, no!!, pois eles têm muito medo de serem vistos fazendo trocas com turistas e serem delatados pelos comitês de fiscais do povo que existem pelas ruas. A sociedade está lotada de dedos-duros, Estes são bem vistos pelos escalões mais altos e ganham benefícios do sistema dedurando os vizinhos sempre que possível. Essa mania de abordar o turista é bem visível nos adolescentes, fascinados por tênis e jeans, coisas que ele ouve falar lá de fora, mas não tem como adquirir. Não percebi esse interesse nas pessoas maduras que, pela idade, participaram ou eram crianças na época da revolução. É como se acreditassem mais nos ideais revolucionários. Esse é um dos aspectos da burrice de se manter um país obstruído.
No dia 27 comprei uma excursão para o Valle de Viñales, ver umas formações carbonáticas e cavernas, onde ocorrem os mogotes, as formações rochosas do vale, situado uns 150 km a oeste de Havana, passando por uma região tabageira. Fomos num microonibus Toyota, com ar condicionado.  Saímos de Havana pelo lado oeste da cidade – Vedado – que é muito bonita, com mansões e clubes da época pré-revolução, também com muitas embaixadas. O ônibus recolheu alguns turistas da excursão em hotéis dessa região da cidade. Seguimos até Candelária por um autopista muito boa, continuando depois por uma estrada convencional até 5 km antes de Pinar del Rio, quando se entra à direita para Viñales. Ao meio-dia paramos para almoçar em um hotel no alto do vale, a comida foi meio que bem medíocre. Em seguida visitamos um mural que está sendo pintado na face de uma pedreira de calcário. Na sequência, andamos em um barco dentro da Cueva del Índio, por 1 dólar. Chegamos de volta a Havana as 18 hs. Lembro na volta de ter visto uma Kombi cabine dupla com um adesivo Made in Brazil no vidro traseiro.
Ainda tinha mais sete dias na ilha e fui a uma tienda da Cubatur decidir o que fazer. Comprei 6 dias em Varadero, que fica uns 120 km a leste de Havana. Tentei lá um hotel mais barato, mas, segundo eles, não havia nenhum hotel barato disponível. Tive então que comprar em um hotel mais caro, o Siboney. Fui até a rodoviária e comprei uma passagem para Varadero para o dia seguinte. Essas caminhadas pela cidade são ótimas para se conhecer a vida da comunidade, o comércio, os transportes. Eles têm uns onibuzinhos pequenos, chamados guá-gua (eles pronunciam uá-ua – tome una uá-ua...), além de ônibus grandes, mais modernos, talvez soviéticos (naquela época o muro ainda estava de pé). No dia seguinte fui a rodoviária para pegar o ônibus para Varadero. Cheguei tarde e ele já havia saído. E a culpa foi inteiramente minha, mas não lembro se foi por questão de fuso horário no meu relógio ou outra coisa. Mas o cara da companhia me falou que eu poderia trocar a passagem para o horário seguinte. Então troquei para uma ou duas horas depois. Sentei na primeira fila corredor a direita, ao lado de uma jovem que se manteve quase muda durante minhas tentativas de conversa, até que desisti e passei a apreciar a viagem.
Chegando em Varadero, fui de taxi até o Siboney, que ficava num local meio isolado, logo depois da zona urbana da cidade. Achei o hotel com pouca gente nessa época. Alguns turistas europeus para uma diária de 21 dólares single e 31 para casal, sem café da manhã e sem refeições, como em Havana. O café é cobrado a 2,5 dólares, um bom café. A praia de Varadero é muito bonita e as cores do mar são belíssimas, com águas transparentes. Fui a pé, jantar na cidade. Depois da janta, dando uma caminhada, encontrei um hotel bem central, quase na beira da praia, Hotel Ledo, com diárias de 14 dólares por um quarto bem simples, com ar condicionado e banheiro. No dia seguinte pedi as contas no Siboney e me mudei para o Ledo. Ia economizar uma grana. Lá em Havana, durante a reserva, me enganaram dizendo que os hotéis mais baratos estavam todos lotados. Passei no escritório da Cubatur para efetuar a troca e receber a diferença do valor da tarifa. Apesar de essa troca não ser um evento comum, nem para mim, nem para a agência, foi feita sem problemas. E fui ficando em Varadero.
Nessa noite fui jantar no El Bodegon Criollo, que era bem simples. Quando estava sentado o garçom perguntou se eu poderia me juntar a um outro grupo. Para poupar o serviço, se eu poderia me juntar a dois jovens casais. Gostei da possibilidade de poder trocar ideias com os locais, mas aconteceu da mesma forma que com a garota no ônibus: não senti boa acolhida. É estranho, parece que existe uma grande desconfiança dos locais para com os turistas, chegando até a falta de educação. Nessa noite pedi um prato que estava no cardápio e que nunca havia comido: carne de cavalo, que veio com o tal molho de tomates e batata frita. Junto com uma cerveja e café, paguei o absurdo de 8,5 dólares.
Vi um pacote turístico aéreo de um dia, de Varadero para Cayo Largo. Perguntei se a volta poderia ser para Havana, o que resolveria meu problema de ter que voltar para Havana. Aceitaram minha proposta e marquei para o dia 05/05. Aluguei uma bicicleta e fui fazer um recorrido até o Rincón Frances, passando pela casa do sr. Dupont, magnata americano das indústrias químicas Dupont, da época pré-revolução. Construída por volta de 1930 sobre um pequeno promontório, funcionava agora como um restaurante sofisticado. Gostei mais do mar daqui do que de Varadero, pois está mais deserto e também pelos promontórios e prainhas. Depois fui até o Laguito, onde treinam golfinhos, a Cueva del Pirata e a Los Tainos, que estava meio abandonada, acredito por estamos na baixa estação. Passei também pelo Campamiemto Internacional até chegar ao Rincón Frances, que também é muito bonito, formando uma ponta ou promontório com um mar sensacional.
Jantei à noite no Albacora, uma boa comida, um lugar interessante, mas nada produzido, com turistas europeus e alguns cubanos. Comi bife de tartaruga com fritas, suco de laranja, cerveja, pão, manteiga e sobremesa (coco com queijo). Total 7,65 dólares. Fui dormir feliz.
Dia 1/5: aluguei um scooter Honda por 2,5 dólares/hora e fiz o mesmo recorrido da bicicleta do dia anterior. A noite jantei no Los Delfinos:  filé de peixe com arroz e salada e uma cerveja. Paguei em torno de 7 dólares.
Sábado, 2 de maio de 1987. Fui a praia pela manhã e, ao meio dia fui fazer um minicurso de mergulho na piscina do Hotel Internacional, com o sr. Pedro, por 5 dólares. Passei uns 10 min embaixo d’água, a 5 m, e consegui compensar a pressão nos ouvidos. Utilizei o final de uma garrafa de ar comprimido e um pouco da reserva. Em Varadero as comidas são relativamente caras. Amanhã vou alugar um carro e ir até Isabela de Sagua.
Aluguei um Lada, igual a esses que vendiam aqui no Brasil alguns anos atrás. Em 1987, eles eram até bem modernos. Peguei a estrada sem muito movimento para aqueles lados. Vi as grandes plantações de cana das cooperativas estatais. Pela primeira vez vi uma plantação de cana irrigada. Depois me disseram que isso também existia aqui no Brasil, mas como leigo no assunto, aquilo me surpreendeu. A estrada não segue pela beira da praia, mas pelo interior, passando por cidadezinhas com antigas casas de madeira, às vezes meio triclínicas, inclinadas, guenzas para um lado, mal cuidadas. Os campos cultivados são lindos, com um bom maquinário agrícola, aparentemente tudo muito correto. Passei por Martí e a cidade me pareceu bem cuidada, com jardins nos canteiros da entrada e da saída da cidade. Em alguns trechos perto de Coralillo, a estrada me lembrou a antiga estrada da praia, por Santo Antônio da Patrulha, com a cana, os engenhos e a topografia. Quando a estrada se aproxima da praia, se vê os cayos ao longe no mar, que parecem ser arborizados ao longe. Mas a s praias não são belas, parecendo margens de lagoas, com juncos e sem a faixa de areia. Na volta dei carona para Milagros, que estava indo para Coralillo. Lá eu tomei dois copos de caldo de cana a 0,1 peso cada. Antes da janta, deixei o Lada no escritório da Havanautos, onde havia pagado os 92 dólares do aluguel e mais a caução de 100 dólares. Ao fechar as contas o muchacho me devolveu 122 dólares. Estava calculando receber de volta uns 80. Saí lampeiro e fui jantar novamente no Albacora, ali perto. Pedi de novo um filé de peixe. Não tem, só tem filé de gado ou galinha. Então vou de galinha frita. E uma cerveja. Não tem cerveja. Então um refri. Não tem, só tem vinho e água mineral. Então água...Minutos depois ele volta: não tem água.  Então vou no seco, mesmo. Depois de uns 30 minutos veio o frango, umas fritas frias e o arroz. Comi só os quentes e o total ficou em 5,3 dólares. Na volta para o hotel, passei pela Havanautos e o muchachito veio me chamar: erramos a conta, ele disse. Tens que pagar mais 45 dólares. Mas eles estavam certos desde o início, eu já sabia...
Ainda estava a fim de tomar uma cerveja e só fui encontrar no Hotel Los Delfines, onde acabei bebendo em um cubículo, olhando para uma parede.
O pacote para Cayo Largo me custou 69 dólares. Era minha despedida de Varadero. Cheguei no aeroporto as 6:30, para o voo que sairia as 7:30. O aeroporto estava fechado. Eu mais o grupo de turistas do Canadá e da Itália ficamos esperando no portão. Assisti o nascer do sol as 7:00, fumando um cigarillo (naquela época eu ainda fumava). Um pouco depois, abriu o aeroporto. Cubanos não podem ir a Cayo Largo, somente se for a trabalho. Entramos pela rampa traseira de um cargueiro Antonov bimotor turboélice do tamanho daqueles antigos Avro da Varig, talvez um pouco menor. A viagem de 170 km dura uns 30 min e passa ao lado da baia dos Porcos (Bahia de los Cochinos), famosa desde quando houve aquela tentativa frustrada de desembarque de contra terroristas cubanos, apoiados pela CIA, em 1961. Passamos também sobre a Ciénega de Zapata, que é tipo um manguezal.
Ao chegar em Cayo Largo, fomos recepcionados por mocinhas que nos serviram coquetéis e nos colocaram colares de flores. Um ônibus nos levou até a playa Sirena, onde nos ofereceram um passeio de barco até um banco de corais, a uns 7 dólares. Eles fornecem máscaras de mergulho, mas o melhor seria se cada um levasse sua própria máscara, pois as que nos deram não eram muito boas. Na volta, o barco passa na praia onde iriamos almoçar. Pulei do barco e nadei até a praia. Não façam isso. Essa de dar uma ponta de um barco em movimento é fria. Me doeu as costas e quase me dá um mau jeito...
O almoço era lagosta. Sem contar aquele guisado de lagosta que havia comido antes, essa foi a primeira lagosta que comi inteira. É gostosa, tem o sabor do camarão, só que mais suave: o sabor do camarão é mais encorpado e me apetece mais. Aí pelas 14 hs fui para o hotel da ilha, que cobra 35 dólares a diária. Lá existem também cabanas para alugar, um pouco mais barato.
A minha volta de Cayo Largo seria para Havana, conforme havia comprado o pacote.  Saiu um avião lotado para Havana e o nosso sairia pouco depois para Varadero. Deixei claro que queria ir para Havana. Tudo esclarecido, fomos para Varadero, onde todos desceram. Prossegui para Havana, somente eu e um outro passageiro, um cubano. Em Havana, pousamos em um aeroporto diferente do internacional. Minha última noite em Cuba foi no Hotel Caribean, a 11 dólares, sem café. Era um hotel muito simples, com vários andares, porém o elevador não funcionava. No banheiro do quarto não havia tampo nem assento no vaso e a descarga não funcionava. Porém havia um providencial balde ao lado. Logo que eu cheguei, não entendi o porquê daquele balde ali. Os lençóis estavam limpos e a mobília incluía um ventilador e um rádio. No saguão do hotel havia um pequeno refeitório, onde serviam algo pela manhã. O hotel fica localizado no Paseo Marti, na Havana Vieja. Era minha última noite em Cuba e retornei ao Floridita para jantar bem. Sentei e logo pedi um daiquiri. Comi um Filete de Pescado Almendrino (com amêndoas) com purê, pan y mantequilla. Veio o pão com manteiga e um segundo daiquiri. Quando chegou o peixe, me atraquei nele com desejo que ele não acabasse, de tanta fome. Para finalizar, uma torta de sorvete e café. Gastei 13,6 dólares nessa última janta. O Floridita fica numa esquina. O salão de entrada é relativamente grande, com um balcão e banquetas à esquerda e algumas mesas à direita. No fundo, subindo um degrau, está um salão redondo com umas 25 mesas. Na parede do fundo há um grande quadro que mostra uma vista do porto. As garçonetes são muito eficientes e prestativas. Já o maitre, como regra, é uma figura antipática, meio careca, com um jeitão mafioso. É com ele que se fala ao entrar – El Capitán. Ele te indica a mesa e depois vem tomar o pedido do cardápio. Pergunta se não vai querer um coquetel de lagosta ou de camarão ( fala  un cotê ). Pergunte o que era um cotê? Aí ele me perguntou se eu não sabia o que era um cotê. Acabei entendendo o que ele queria dizer. Perguntou também se eu queria uma ensalada. Na hora de trazer a conta, cochichou algo com a garçonete, que me veio impingir uma dose de rum, ao que agradeci.
Dia 6/5. Levantei as 7 hs, desci para comer algo e tomei um taxi para o aeroporto, que fica a uns 20 min. O aeroporto estava num estado ruinoso, cheio de goteiras ativas, mesmo sem estar chovendo. O voo para Lima saiu com 10 minutos de atraso. Era um Ilyuchin da Cubana, com assentos muito apertados. A viagem durou 4h45min e foi servido um almoço a bordo, com uma carne borrachenta, parecia uma carne de sopa, com aparência e sabor suspeito. Depois de comer aquilo, fiquei me sentindo mal, com uma bola no estômago, e pensei que fosse botar tudo para fora antes de aterrissar. Senti saudades da Varig, no trecho Rio/Panamá.
Em Lima, possuía reserva no Sheraton, a mais de 100 dólares a diária. Depois de conhecer um pouco o centro de Lima, voltando ao hotel e vendo os massacrantes anúncios na tv (comprem, consumam, cartão VISA, etc.) percebi a semelhança que nos identifica de uma forma comum na América Latina: a dominação cultural do sistema capitalista cristão. Existe falta de saneamento, de cultura, de democracia em si, como sendo o direito das pessoas poderem viver uma vida com acesso às coisas básicas. Uma falta de caráter dos governantes que não fazem nada pelas pessoas, pela sociedade. Se o sistema socialista que eu vivenciei nesses últimos dias não me agradou em muitas coisas, achei louvável ver que as crianças têm o direito a educação, os governantes lá estão realmente comprometidos com isso. As crianças estão com seus uniformes, seu material, o transporte até a escola, estão bem alimentadas e com saúde. E a garantia de educação e saúde não é privilégio do sistema socialista. De nada valem os discursos se não existe a ação. Isso foi o que eu vi de mais especial nessa viagem. Os discursos do Brizola, CIEPS, podem ser demagógicos, mas ele está certo. Governantes, calem a boca e hajam, façam coisas. E tudo deveria começar pelas cidades, os governos municipais. Os prefeitos e suas administrações tem o poder do desenvolvimento social, se quiserem...

Macaé, maio1987

Acima, o Malecón visto do Hotel Deauville. Ao fundo à esquerda o forte Castillo del Morro. Abaixo, vista da cidade, com o Capitólio, a partir do hotel.

Acima, estudantes. Abaixo, dona Ana e os seus colegas do Comite de Defesa da Revolução.

 Acima, as calçadas cobertas do Palácio do Governador; abaixo, o interior do Palácio.

 Acima, Vale de Viñales. Abaixo, o hotel onde almoçamos.

 Casas de veraneio da Playa del Este

 Finca Vigia: casa de hóspedes. Abaixo, idem, com a casa principal ao fundo. 

 Finca Vigia

 Finca Vigia
 Finca Vigia. Abaixo, a estrada para Playa del Este

 Rua de Varadero. Abaixo, mansão dos Dupont

 Falésias de Varadero. Abaixo, Restaurante no Parque Icacos

 Casarão em Varadero, Abaixo, praia
Abaixo, igreja em Isabela de Sagua

 Acima, decolando de Varadero rumo Cayo Largo. Abaixo, a Baia dos Porcos ao fundo.

Cayo Largo
CONTINUAÇÃO



México -Parti para o México, Capital Federal. Lá eu fiquei hospedado num hotel na chamada Zona Rosa, o point da capital. Lembro dos nomes de ruas Hamburgo, Liverpool, mas não lembro exatamente onde era o hotel. Seria o Hotel Sevilla? Era um prédio que me lembrou o prédio da Engenharia, na frente da praça Argentina, em Porto Alegre. Tenho impressão, inclusive, que também tinha uma espécie de praça na frente (ou era uma linha de trem?).  O hotel ficava a meia distância entre o Zócalo e o Parque Chapultepec. A caminhada tanto para um quanto para o outro era relativamente grande, coisa de 2 a 3 km em direções opostas. Fui caminhando até o Chapultepec, onde tem, no alto, o Palácio do breve Imperador Maximiliano, uma boa caminhada... A cidade havia passado por um fortíssimo terremoto em setembro de 85 e ainda se viam alguns prédios em ruínas. Em direção ao Zócalo, passei por um centro de artesanato dentro de um prédio colonial, o Museu de Artes Populares. O centro da cidade é o Zócalo, uma grande praça aberta, onde estão a Catedral e o Palácio Presidencial. No final da tarde acontece no  a cerimônia de descerramento da grande bandeira mexicana no centro da praça. Um bom point para observar a cerimonia da bandeira é no bar do terraço do hotel Majestic, na esquina da Francisco Madero com a praça. Ali perto, nessa mesma rua, tinha um grande café antigo, numa esquina. Mais adiante, a Casa dos Azulejos, próximo à Torre Latinoamericana e ao Palácio de Belas Artes.

Uma noite saí para jantar na zona Rosa. Resolvi entrar em um restaurante, que estava até bem vazio. Depois de me acomodar e fazer o pedido esperei um bom tempo e estava faminto. Foram entrando mais pessoas e logo o restaurante praticamente lotou. O garçom passou distribuindo confete e serpentina, nas mesas, não entendi... Minha janta chegou bem na hora que começou um carnaval, com confetes voando dentro do meu prato. Virou uma festa maluca, e eu comendo frijoles, no meio de um baile de carnaval, com as pessoas gritando, pulando e jogando confete. Acho que eu era o único que estava jantando ali naquela loucura. Paguei a conta e sai rápido, depois de comer...


No outro dia combinei um recorrido com um taxista e fui conhecer a UNAM e outros lugares. Caminhei um pouco por lá e conheci os murais de Diego Rivera.

 Acima: Zócalo, cerimonia de descerramento da bandeira, vista do hotel Majestic, com o palácio do Governo ao fundo. Abaixo, Zócalo, Catedral.

 Acima e abaixo, UNAM e painéis murais de Diego Rivera.


Dia 14/04 a noite peguei um ônibus para Mérida, numa viagem de 1300 km em 15 a 20 horas. Boa parte da viagem foi durante a noite e eu escolhi sentar num banco na frente do ônibus para poder ver a estrada. Na região petroleira do Campeche, durante a noite passamos por caminhões transportando tuberias de perfuração.
Em Mérida fiquei hospedado no Hotel Montejo Palace, no Paseo de Montejo (U$14/noite), no início da avenida de mesmo nome, uma avenida muito bonita da cidade. Lá foram construídas muitas residências das famílias tradicionais até a primeira metade do século 20, casarões em estilo clássico. Gostei muito da cidade e notei que lá o pavimento brilhava, algo que nunca havia notado antes em outra cidade, talvez pelo sol incidente na região. Comprei em uma livraria os dois volumes do livro de John Stephens Viajes a Yucatán, onde o autor descreve sua descoberta das ruínas maias de Uxmal nos anos 40 do século XIX. Comprei um pacote de uma noite para assistir ao espetáculo Luz y Sonido em Uxmal, jantando e dormindo em um hotel em Uxmal, com o espetáculo após a janta (U$15 tudo). Voltando a Mérida comprei um bilhete de ônibus para Cancun (U$ 4) e um pacote de visita a Chichen Itzá. Esperava fazer o passeio às ruínas pela manhã e pegar de passagem o ônibus para Cancun, pois já teria a passagem comprada desde Mérida. Caminhei pelas ruínas e depois do almoço fui para a estrada esperar pelo ônibus. Algum tempo depois passou um, e motorista me sinalizou algo como “Espere pelo outro.” Logo atrás veio outro que parou ao ver meu sinal com a passagem na mão. Estava lotado, inclusive o assento que eu havia comprado: uma senhora estava sentada nele. Não exerci o meu direito ao lugar por constrangimento de estrangeiro e fui para o fundo do ônibus, ficando em pé. Paramos em Valladolid para xixi. Na volta ao ônibus, fiquei em pé no corredor novamente e o motorista, ao conferir as passagens, me colocou no meu assento.
 Acima e abaixo: Mérida

 Acima e abaixo, Uxmal

 Acima: cenote em ChichenItzá, Abaixo, a grande pirâmide, podia-se subir com a ajuda de uma corrente




Quando visitei Cancún eu não tinha a menor ideia de que estava sendo construída a parte nova e moderna que atualmente se conhece. O ônibus nos deixou no terminal da ADO Autobuses (avenidas Uxmal com Tulum) e caminhei até um hotelzinho muito muquifo que ficava por ali, indicado por alguém. Relendo as poucas anotações que eu fiz, paguei pelas duas noites U$ 25 na primeira e U$ 18 na última. A impressão que tive da Cancun que conheci, entre o terminal de ônibus e o muquifo onde me hospedei, era como se eu estivesse em Brasília das fotos dos anos 60. As construções eram todas quadradas, emendadas umas nas outras, emparedando as ruas. Depois fui bater perna e encontrei uma avenida mais larga de duas pistas, com um grande canteiro arborizado no meio. Nesta avenida havia muitos bares e restaurantes, o que me ajudou a decidir onde iria jantar naquela noite. Quando voltei lá à noite, em todos os restaurantes os garçons tentavam falar em inglês comigo, achando que eu era gringo. Ficou evidente quem era o principal público dos restaurantes e da cidade e que brasileiros ali eram fenômeno. No dia seguinte saí para conhecer a região. Peguei um ônibus até Playa del Carmen, que fica 1 hora para o sul. O ônibus custou U$ 0,7 e nos deixou numa praia com coqueiros e um boteco de madeira. Na frente havia um píer onde se embarcava para Cozumel. Depois de 30 min de barco e por U$ 1,5 , estava em Cozumel. Da ilha, lembro da secura do local e que saí caminhando para sul por uma estrada de pedrinhas para tentar conhecer um pouco, mas não poderia ir muito longe, pois teria que pegar as 16 hs o barco de volta a tempo de tomar o último ônibus para Cancún, que saia as 17 hs. Como era uma época sem fotos digitais, não sobrou nenhuma imagem dessa parte.
De Cancún, voltei de avião dia 19 para a cidade do México. Do aeroporto fui direto para a rodoviária comprar passagem para Acapulco. A passagem custou 5 dólares, com empresa Estrella de Oro. Ônibus de primeira, viagem de umas 7 horas, por estradas sinuosas e serranias. Em algumas paradas os passageiros eram cercados por garotinhos pegajosos vendendo bijuterias...  Em Acapulco fiquei em um hotel perto do pescoço do istmo. Era o Hotel Costa Linda, existe até hoje, na av. Costanera Miguel Alemán, 1008, à esquerda de quem vai do centro para o istmo e ficava meio recuado e em um nível mais alto que a rua. Havia um estacionamento relativamente grande na frente, onde hoje é a piscina, e lembro que lá mesmo no hotel eles alugavam uns jipinhos VW, estilo da 2° Guerra. Consegui uma foto do hotel no Street View e está lá o jipinho...No dia seguinte, aluguei um deles para conhecer a região. Passei por La Quebrada, onde os caras saltam do alto dos rochedos, os clavadistas. Nesse lugar tem alguns hotéis que mostram o charme do final dos anos 50 e onde se hospedaram os famosos artistas hollywoodianos da época de ouro de Acapulco. Depois fui até Pie de la Cuesta, que é uma praia fora da baia de Acapulco, uns 7 km para NW. Lá existe uma lagoa junto ao mar, com muitos coqueiros (lagoa Coyuca). Existe uma infraestrutura de bares e restaurantes rústicos. Naquela época não havia praticamente ninguém na praia, quando me sentei na areia. Mas logo chegou uma senhora vendendo ostras frescas e camarões. Além de eu não apreciar ostras, seria uma temeridade comer aquilo. Como o foco principal do turismo é para as hordas de americanos que vão para o México, todos supõe que também sejamos americanos e vem tentando o inglês. Normalmente se surpreendiam por eu ser brasileiro. Realmente os mexicanos são muito simpáticos e receptivos, sempre procurando ser simpáticos. Tem um pouco do espirito do brasileiro, com suas características próprias. Eles falam com muito orgulho que naquela região da laguna foi filmado um episódio de James Bond. Voltei de ônibus à cidade do México, também pela Estrella de Oro.  Meus registros indicam que deixei Acapulco no dia 21/4 às 14 h e cheguei de volta à cidade do México, com atraso, as 22 h. Teria que conseguir um hotel a essa altura da noite. Consegui um próximo do aeroporto (Bosques de Aragón). Coloquei meu nome na lista de espera da Mexicana para o dia seguinte para Havana. Era um 727  da Mexicana, lotado, que saiu as 9:40, com escala em Mérida.

 Acima: estrada para Acapulco. Abaixo (foto do Street View), o hotel Costa Linda e o jipinho azul.

 Acima, vista da baia de Acapulco. Abaixo: La Quebrada.

 Acima e abaixo, laguna de Coyuca, em Pie de la Cuesta

CONTINUA...

sábado, 26 de novembro de 2016

Viagem ao pais de Fidel

Em 1987 visitei Cuba. Talvez tenha sido um dos primeiros turistas brasileiros lá, pois recém haviam sido restabelecidas as relações com a ilha. A viagem foi via Panamá, onde fiquei 2 dias, e uns 10 dias no México. Depois foram 2 semanas em Cuba. Fiz algumas anotações em uma agenda durante a viagem e só mais recentemente comecei a escrever o texto final.
A vida é cheia de coincidências, as vezes dramáticas: tinha terminado de retocar o texto na madrugada de sábado e comecei a anexar algumas fotos que fiz na viagem. Ainda era a época das máquinas fotográficas que usavam filme, portanto se tiravam poucas fotos, dois ou três rolos por viagem. Acordei hoje (26/11/2016) com a noticia da morte do Comandante.
A silhueta de Fidel, abaixo, foi tirada da ZH, mas passei para o negativo.


Diários de uma viagem ao país de Fidel



Minha paixão por viagens começou cedo, mas só vou relatar aquelas a partir de 1987, quando já estava morando em Macaé pois foi então que eu comecei a ter uma independência econômica suficiente para manter minha vida e as viagens.
Estávamos sob o governo Sarney, com o Plano Cruzado e a esperança de controle da inflação. Havia entrado na Petrobras em 1985 e em 1987 iria tirar minhas primeiras férias. Em janeiro de 1987 comecei a programar as férias para abril.
Ouvira muito falar do porto livre do Panamá, que era tipo uma Zona Franca de Manaus, só que muito melhor, onde se poderiam comprar máquinas fotográficas a preços baixos, sem os impostos exorbitantes a que estávamos, e estamos até hoje, submetidos (desde Tiradentes não mudou nada, até piorou, ele que morreu por isso...). Depois iria conhecer o México e por fim a ilha de Cuba. Uau!!! O Brasil acabara de reatar relações diplomáticas com Cuba e eu estava querendo conhecer aquele país fascinante, que estava na mente da maioria das pessoas dos anos 50 e 60.

Os contatos iniciais para a entrada em Cuba foram com a CUBATUR, o escritório de representação comercial daquele país, que recém havia se instalado no Brasil, em São Paulo, na rua Alves Guimarães, 837. Meus contatos eram com o sr. De Lísio (pelo menos assim entendi seu nome) e com a srta. Acela. Através deles fechei um pacote de 14 dias em Cuba, dos quais sete dias seriam em Havana, com um hotel  reservado (Hotel Deauville), e mais sete dias em aberto, os quais eu reservaria por lá, comprando outro pacote no local. Também com eles eu comprei as passagens, via VARIG, no trecho Rio-Panamá, Panamá-México e México-Havana pela Mexicana. E na volta, como não havia linha direta com o Brasil, a Cubana me levaria até Lima e de lá, novamente pela VARIG, para o Brasil. A entrada no Panamá exigia um visto no consulado que ficava em Copacabana, lugar que eu achei meio mafioso. Lembro que paguei umas taxas altas pelo visto panamenho.

O voo saiu dia 9/4. Era um DC-10 da VARIG, que saiu as 11:20 da manhã. Tenho esses detalhes registrados em uma agenda que fui escrevendo com o desenrolar da viagem. Com 1h:30 min de voo, o avião estava sobrevoando campos e rios e supus estar a 1300 ou 1400 km do Rio de Janeiro. As 15:00 hs deu para perceber que estava sobrevoando a Amazônia e calculei estar a uns 3200 km do Rio.

PANAMÁ - O Panamá tem um fuso de 2 horas menos que o Brasil. Peguei um taxi e fui para o hotel Veracruz, calle 30, Ave. Peru 25, que ficava a uma quadra da embaixada americana daquela época. Não tinha muita certeza do nome ou do endereço do hotel e só fui redescobrir seu endereço em 2019, ao encontrar um papel de carta do hotel, que encontrei ao arrumar uma gaveta da mãe. 

No térreo havia um bar onde tomei uma cerveja a um dólar. A garrafa era do tipo long neck, que ainda não existia no Brasil. E com tampa de rosca, que também não havia ainda por aqui. Um detalhe curioso é que no vidro da base da garrafa, havia um encaixe, para que se pudesse abrir a tampa de outra garrafa. Então podia se abrir uma garrafa com outra, sem precisar machucar a mão tentando abrir a tampa de rosca.

No dia seguinte contratei um taxista para me levar a conhecer a cidade. Por US$ 100 ele me levou até as ruínas da antiga cidade do Panamá, que foi destruída pelo pirata inglês Henry Morgan em 1671, depois que ele atravessou a pé o istmo, vindo do lado Atlântico.  Depois fomos até a eclusa de Miraflores, no início do Canal do Panamá e demos uma volta em umas áreas residenciais novas da cidade. Ele me deixou na rua do comércio, nas lojas de importados: fui às compras. Procurei preços das máquinas fotográficas e me decidi por uma Canon T80, a primeira geração das máquinas com foco automático a motor, que custou US$ 440.00. Por essa época estavam lançando as primeiras máquinas TTL com lentes servoassistidas para foco (autofoco) e essa era uma delas. Era uma rua cheia de lojas de importados, em geral com proprietários árabes (turcos?). Depois da compra eles me falaram que não poderia sair da loja com a máquina. Ela deveria ser resgatada no depósito do aeroporto, quando da partida do turista. Só assim para conseguir o desconto da Zona Franca. Achei muito estranho isso e pensei que estavam me levando no bico, mas fazer o quê?

No dia seguinte, no aeroporto, procurei o serviço de entrega de mercadorias. Acompanhei um sujeito que me conduziu por uns corredores, descemos uns dois andares e saímos em um porão, no nível da pista, onde havia alguns depósitos com grades de tela. Ele entrou em um desses depósitos e me trouxe um pacote. Abri e lá estava a máquina que eu havia comprado. Muito sinistro...

 Acima e abaixo: ruínas da antiga cidade

Acima: casco viejo, a parte tradicional da cidade do Panamá.
 Acima e abaixo: Zona do Canal, ainda era norte americana

Acima, orla da Av. Balboa desde La Patilla (1987)


CONTINUA...