Continuação. Parte 3 - Final
Havana, Cuba - O aeroporto José Martí fica a uns 18 km ao sul da
cidade, por uma pista dupla. Tomei um táxi até o Hotel Deauville, no Malecón.
Este hotel tem um barzinho legal que se acessa descendo uma escada para o
subsolo, onde se pode beber uma Tropi-Cola, a Coca-Cola local.
Fiquei em um apartamento lateral
quase de esquina, em um andar alto. Uma das primeiras coisas que notei foi o
aspecto da água da torneira, que sai esbranquiçada e que quase não faz espuma
ao se ensaboar. Para fazer a barba, por exemplo, a espuma vira uma coisa
aguada, sem abundância, muito escorrida. Presumo que isso seja em consequência
da água da ilha, toda ela de origem em substrato carbonático, dando uma
característica alcalina à água e causando essa impossibilidade de fazer espuma
e deixando o cabelo meio duro. Já havia notado isso em Mérida.
Ao caminhar pela cidade, reparei
que os prédios são muito mal cuidados. Não senti perigo em caminhar sozinho
pelas ruas, conforme já haviam me informado no hotel. O que acontece é que
alguns adolescentes te seguem e pedem “Dá-me la hora”, como uma forma de abordagem ao turista gringo. Depois vem a segunda parte da
abordagem: “Quieres cambiar? ” Isto ocorria com uma certa frequência irritante.
As vezes querem te dar algo em troca dos teus tênis, ou pela camiseta...
Caminhando perto do hotel passei
por uma placa na fachada de uma casa velha: Comitê de Apoio a Revolução. Resolvi entrar para saber o que era.
Conheci alguns senhores e senhoras (dona Ana), todos de mais idade, e ficamos
conversando. Fui convidado para ir à tarde, no lançamento de um livro do
Comandante Blas Rocas, às 17 hs no Hospital Central. Dei uma passeada pela cidade, fui ao Museo de
la Revolución e, próximo à hora marcada, fui para a tarde de autógrafo. Era no
saguão do hospital. Consegui apertar a mão do autor, após a dona Ana ter me
visto na multidão e me carregado até ele para me apresentar como um brasileiro em Cuba. Ele
se virou para me ver, apertou minha mão e voltou à sua conversa. Alguns
discursos, aplausos e filas. Quando iniciaram a venda do livro, uma correria, a
fila se desfez e logo se formou outra fila. A bagunça estava grande e
informaram que a venda seria fora do saguão, para não atrapalhar o hospital.
Nova correria, nova bagunça, fura-filas, etc, até que, as 18:30 desisti do
livro e fui embora. Deveria ter ficado pra ver no que iria dar...
No dia seguinte (25/4) fui até a
casa de Hemingway, a Finca Vigia, em San Francisco de Paula, uns 12 km a SE do
centro de Havana. O que eu fiz para chegar até lá foi uma coisa totalmente fora
do padrão normal para os turistas. Tomei um ônibus perto do Capitólio, a linha 7, passagem a 10
centavos. Durante a viagem, conversei com algumas pessoas perguntando em que ponto descer para conhecer a casa de Hemingway. Havia muitos estudantes que foram bastante receptivos. Um me perguntou se eu não gostaria de conhecer sua irmã, dizendo que eu poderia então trocar com ele alguma calça jeans, ou os tênis. Agradeci o convite. Depois de uns 30 minutos de viagem, chega-se a um bairro que parece
uma cidade do interior. O ônibus me deixou em uma avenida de mão dupla a
uns 300 m da entrada da finca, por onde se chega através de mais uns 50 metros.
Nesse dia a casa, muito bem conservada, estava quase vazia de turistas. É um local muito simpático, uma casa bem iluminada, com portas grandes dando para a frente e para os fundos. Se imaginarmos isso nos anos 50, com os filhos, as
visitas e os empregados, deveria ser um lindo local para passar férias. A finca ocupa uns três hectares bem arborizados, com a casa
principal no ponto mais alto do terreno e um casarão lateral, de madeira, para hóspedes. Ao
lado da casa foi construída uma torre com uma sala ou escritório no alto, onde
Hemingway subia para escrever.
No domingo (26/4) a TV informou
da morte de Blas Roca Calderio e mostrou imagens da cerimonia em sua homenagem,
na Plaza de la Revolución. Muita gente, pessoas acima de 30-35 anos. Não se vê
a juventude, que me parece não estar tão interessada na revolução ou nos
revolucionários.
Passeando pelo centro da cidade,
fui conhecer a Copélia, a famosa sorveteria de Havana. Fica no centro da praça
em frente ao Habana Libre, o antigo Hotel Hilton da era pré-revolução. Na sorveteria é assim: primeiro
se compra o tíquete em umas cabines espalhadas pela praça. Depois entra-se na sorveteria e se espera
na fila atrás de alguém que está sentado ao balcão tomando sorvete. O atendente
somente recebe o pedido quando chega a sua hora de sentar. Depois que ele atende o cliente sentado, ele não se adianta para receber o
pedido de quem está atras, para adiantar o expediente. Essa seria a
maneira de atender mais gente ao mesmo tempo, como seria na pressa do sistema
capitalista que estamos acostumados. Quando chegou minha vez, pedi 3 bolas –
fresa, chocolate e crema. O sorvete não é nenhuma maravilha...
Em Cuba existem 2 tipos de táxi,
os comuns e os especiais para turistas. Estes aceitam pagar a corrida com dólares. Se não
houver um especial parado no hotel, rapidamente chamam algum por rádio,
parecendo as vezes que não querem que o turista pegue o comum e se misture muito com os locais.
Durante o dia eles usam a bandeirada 3 e à noite usam a bandeira 4. As
bandeiras 1 e 2 são para os cubanos. As moedas aceitas nas Tiendas Intourist
são o dólar ou o Peso Turista, que é equivalente ao dólar e diferente do peso
que a população usa normalmente. Peguei um táxi do Havana Libre até o Capitólio
e deu 1,5 dólares. O motorista não tinha troco para 2 dólares e disse que me
entregaria mais tarde no hotel. Não acreditei muito no papo do cara, mas quando
retornei ao hotel o troco estava lá.
Estava na escadaria da
Universidade de Havana, no centro da cidade, e percebi que alguém me seguia e logo me abordou. Me
falou que era professor na universidade e que estava para casar. Perguntou se
eu poderia comprar para ele uma garrafa de um licor importado, vendido somente nas
lojas para turistas que havia nos hotéis, onde os cubanos não entram. Em troca ele me daria umas fitas com
músicas cubanas. Gostei da proposta e combinei que iria até o Hotel Colina, ali
na frente, e compraria o licor na Tienda Turistica do hotel. Na volta estendi o pacote para ele e ele falou
assustado para eu não lhe entregar o pacote, pois alguém poderia ver. Me
pediu para segui-lo até seu carro, mas, segundo ele, não poderíamos caminhar
lado a lado. Eu o segui, subindo a ladeira à direita da universidade. Lá em
cima, dobrou à direita, sempre um metro na minha frente. Já estava achando
aquilo meio ilógico, mas continuei seguindo até ele subir as escadas de um
monumento. Quem, diabos, estacionaria em um monumento? Comecei a desconfiar que
havia caído no golpe da garrafa e que não havia nenhum carro, nenhuma fita.
Ele me pediu a garrafa e começou a chamar por alguém inexistente por ali, então
eu falei que havia sido enganado e tal. Ele falou que não, que en nombre de la
amistad cubano-brasileña... Está bem, fique com essa garrafa em nome da amizade
cubano-brasileira, eu falei. Fui embora e ele ficou com o licor.
Outra abordagem muito frequente
pelas ruas de Havana eu já citei antes. É feita normalmente por 2 ou 3
adolescentes, que ficam te olhando e cochichando. Aos poucos se aproximam e
pedem: Dá-me la hora, para você
informar que horas são. A resposta mapeia o sujeito que não é nativo na língua,
além de ser uma forma de puxar assunto. Aí vem a segunda pergunta: Quieres cambiar?, perguntando se o
sujeito quer trocar seus dólares pelas taxas do mercado negro, mais favoráveis
ao turista. Como eu nunca aceitei trocar moedas, sempre vinha a terceira
pergunta, querendo saber se o turista trocaria os jeans, os tênis ou a
camiseta. Depois de várias abordagens desse tipo, numa delas disse que aceitava
trocar a camiseta e ameacei tira-la no meio da rua. Os garotos ficaram
apavorados e disseram No, aqui, no! Aqui,
no!!, pois eles têm muito medo de serem vistos fazendo trocas com turistas
e serem delatados pelos comitês de fiscais do povo que existem pelas ruas. A
sociedade está lotada de dedos-duros, Estes são bem vistos pelos escalões mais
altos e ganham benefícios do sistema dedurando os vizinhos sempre que possível.
Essa mania de abordar o turista é bem visível nos adolescentes, fascinados por
tênis e jeans, coisas que ele ouve falar lá de fora, mas não tem como adquirir.
Não percebi esse interesse nas pessoas maduras que, pela idade, participaram ou
eram crianças na época da revolução. É como se acreditassem mais nos ideais
revolucionários. Esse é um dos aspectos da burrice de se manter um país
obstruído.
No dia 27 comprei uma excursão
para o Valle de Viñales, ver umas formações carbonáticas e cavernas, onde
ocorrem os mogotes, as formações rochosas do vale, situado uns 150 km a oeste
de Havana, passando por uma região tabageira. Fomos num microonibus Toyota, com
ar condicionado. Saímos de Havana pelo
lado oeste da cidade – Vedado – que é muito bonita, com mansões e clubes da
época pré-revolução, também com muitas embaixadas. O ônibus recolheu alguns
turistas da excursão em hotéis dessa região da cidade. Seguimos até Candelária
por um autopista muito boa, continuando depois por uma estrada convencional até
5 km antes de Pinar del Rio, quando se entra à direita para Viñales. Ao
meio-dia paramos para almoçar em um hotel no alto do vale, a comida foi meio
que bem medíocre. Em seguida visitamos um mural que está sendo pintado na face
de uma pedreira de calcário. Na sequência, andamos em um barco dentro da Cueva
del Índio, por 1 dólar. Chegamos de volta a Havana as 18 hs. Lembro na volta de
ter visto uma Kombi cabine dupla com um adesivo Made in Brazil no vidro
traseiro.
Ainda tinha mais sete dias na
ilha e fui a uma tienda da Cubatur decidir o que fazer. Comprei 6 dias em
Varadero, que fica uns 120 km a leste de Havana. Tentei lá um hotel mais barato,
mas, segundo eles, não havia nenhum hotel barato disponível. Tive então que comprar em
um hotel mais caro, o Siboney. Fui até a rodoviária e comprei uma passagem para
Varadero para o dia seguinte. Essas caminhadas pela cidade são ótimas para se
conhecer a vida da comunidade, o comércio, os transportes. Eles têm uns
onibuzinhos pequenos, chamados guá-gua (eles pronunciam uá-ua – tome una uá-ua...), além de ônibus
grandes, mais modernos, talvez soviéticos (naquela época o muro ainda estava de
pé). No dia seguinte fui a rodoviária para pegar o ônibus para Varadero. Cheguei
tarde e ele já havia saído. E a culpa foi inteiramente minha, mas não lembro se
foi por questão de fuso horário no meu relógio ou outra coisa. Mas o cara da
companhia me falou que eu poderia trocar a passagem para o horário seguinte.
Então troquei para uma ou duas horas depois. Sentei na primeira fila corredor a
direita, ao lado de uma jovem que se manteve quase muda durante minhas
tentativas de conversa, até que desisti e passei a apreciar a viagem.
Chegando em Varadero, fui de taxi
até o Siboney, que ficava num local meio isolado, logo depois da zona urbana da
cidade. Achei o hotel com pouca gente nessa época. Alguns turistas europeus
para uma diária de 21 dólares single e 31 para casal, sem café da manhã e sem
refeições, como em Havana. O café é cobrado a 2,5 dólares, um bom café. A praia
de Varadero é muito bonita e as cores do mar são belíssimas, com águas
transparentes. Fui a pé, jantar na cidade. Depois da janta, dando uma caminhada,
encontrei um hotel bem central, quase na beira da praia, Hotel Ledo, com
diárias de 14 dólares por um quarto bem simples, com ar condicionado e
banheiro. No dia seguinte pedi as contas no Siboney e me mudei para o Ledo. Ia economizar
uma grana. Lá em Havana, durante a reserva, me enganaram dizendo que os hotéis mais
baratos estavam todos lotados. Passei no escritório da Cubatur para efetuar a
troca e receber a diferença do valor da tarifa. Apesar de essa troca não ser um
evento comum, nem para mim, nem para a agência, foi feita sem problemas. E fui
ficando em Varadero.
Nessa noite fui jantar no El
Bodegon Criollo, que era bem simples. Quando estava sentado o garçom perguntou
se eu poderia me juntar a um outro grupo. Para poupar o serviço, se eu poderia
me juntar a dois jovens casais. Gostei da possibilidade de poder trocar ideias
com os locais, mas aconteceu da mesma forma que com a garota no ônibus: não
senti boa acolhida. É estranho, parece que existe uma grande desconfiança dos
locais para com os turistas, chegando até a falta de educação. Nessa noite pedi
um prato que estava no cardápio e que nunca havia comido: carne de cavalo, que
veio com o tal molho de tomates e batata frita. Junto com uma cerveja e café,
paguei o absurdo de 8,5 dólares.
Vi um pacote turístico aéreo de
um dia, de Varadero para Cayo Largo. Perguntei se a volta poderia ser para
Havana, o que resolveria meu problema de ter que voltar para Havana. Aceitaram
minha proposta e marquei para o dia 05/05. Aluguei uma bicicleta e fui fazer um
recorrido até o Rincón Frances, passando pela casa do sr. Dupont, magnata
americano das indústrias químicas Dupont, da época pré-revolução. Construída
por volta de 1930 sobre um pequeno promontório, funcionava agora como um
restaurante sofisticado. Gostei mais do mar daqui do que de Varadero, pois está
mais deserto e também pelos promontórios e prainhas. Depois fui até o Laguito,
onde treinam golfinhos, a Cueva del Pirata e a Los Tainos, que estava meio
abandonada, acredito por estamos na baixa estação. Passei também pelo
Campamiemto Internacional até chegar ao Rincón Frances, que também é muito
bonito, formando uma ponta ou promontório com um mar sensacional.
Jantei à noite no Albacora, uma
boa comida, um lugar interessante, mas nada produzido, com turistas europeus e
alguns cubanos. Comi bife de tartaruga com fritas, suco de laranja, cerveja, pão,
manteiga e sobremesa (coco com queijo). Total 7,65 dólares. Fui dormir feliz.
Dia 1/5: aluguei um scooter Honda
por 2,5 dólares/hora e fiz o mesmo recorrido da bicicleta do dia anterior. A
noite jantei no Los Delfinos: filé de
peixe com arroz e salada e uma cerveja. Paguei em torno de 7 dólares.
Sábado, 2 de maio de 1987. Fui a
praia pela manhã e, ao meio dia fui fazer um minicurso de mergulho na piscina
do Hotel Internacional, com o sr. Pedro, por 5 dólares. Passei uns 10 min
embaixo d’água, a 5 m, e consegui compensar a pressão nos ouvidos. Utilizei o
final de uma garrafa de ar comprimido e um pouco da reserva. Em Varadero as
comidas são relativamente caras. Amanhã vou alugar um carro e ir até Isabela de
Sagua.
Aluguei um Lada, igual a esses
que vendiam aqui no Brasil alguns anos atrás. Em 1987, eles eram até bem
modernos. Peguei a estrada sem muito movimento para aqueles lados. Vi as
grandes plantações de cana das cooperativas estatais. Pela primeira vez vi uma
plantação de cana irrigada. Depois me disseram que isso também existia aqui no
Brasil, mas como leigo no assunto, aquilo me surpreendeu. A estrada não segue
pela beira da praia, mas pelo interior, passando por cidadezinhas com antigas
casas de madeira, às vezes meio triclínicas, inclinadas, guenzas para um lado, mal
cuidadas. Os campos cultivados são lindos, com um bom maquinário agrícola,
aparentemente tudo muito correto. Passei por Martí e a cidade me pareceu bem
cuidada, com jardins nos canteiros da entrada e da saída da cidade. Em alguns
trechos perto de Coralillo, a estrada me lembrou a antiga estrada da praia, por
Santo Antônio da Patrulha, com a cana, os engenhos e a topografia. Quando a
estrada se aproxima da praia, se vê os cayos ao longe no mar, que parecem ser
arborizados ao longe. Mas a s praias não são belas, parecendo margens de
lagoas, com juncos e sem a faixa de areia. Na volta dei carona para Milagros,
que estava indo para Coralillo. Lá eu tomei dois copos de caldo de cana a 0,1
peso cada. Antes da janta, deixei o Lada no escritório da Havanautos, onde havia
pagado os 92 dólares do aluguel e mais a caução de 100 dólares. Ao fechar as
contas o muchacho me devolveu 122 dólares. Estava calculando receber de volta
uns 80. Saí lampeiro e fui jantar novamente no Albacora, ali perto. Pedi de
novo um filé de peixe. Não tem, só tem filé de gado ou galinha. Então vou de
galinha frita. E uma cerveja. Não tem cerveja. Então um refri. Não tem, só tem
vinho e água mineral. Então água...Minutos depois ele volta: não tem água. Então vou no seco, mesmo. Depois de uns 30
minutos veio o frango, umas fritas frias e o arroz. Comi só os quentes e o
total ficou em 5,3 dólares. Na volta para o hotel, passei pela Havanautos e o
muchachito veio me chamar: erramos a conta, ele disse. Tens que pagar mais 45
dólares. Mas eles estavam certos desde o início, eu já sabia...
Ainda estava a fim de tomar uma
cerveja e só fui encontrar no Hotel Los Delfines, onde acabei bebendo em um
cubículo, olhando para uma parede.
O pacote para Cayo Largo me
custou 69 dólares. Era minha despedida de Varadero. Cheguei no aeroporto as
6:30, para o voo que sairia as 7:30. O aeroporto estava fechado. Eu mais o
grupo de turistas do Canadá e da Itália ficamos esperando no portão. Assisti o
nascer do sol as 7:00, fumando um cigarillo (naquela época eu ainda fumava). Um
pouco depois, abriu o aeroporto. Cubanos não podem ir a Cayo Largo, somente se
for a trabalho. Entramos pela rampa traseira de um cargueiro Antonov bimotor
turboélice do tamanho daqueles antigos Avro da Varig, talvez um pouco menor. A
viagem de 170 km dura uns 30 min e passa ao lado da baia dos Porcos (Bahia de
los Cochinos), famosa desde quando houve aquela tentativa frustrada de
desembarque de contra terroristas cubanos, apoiados pela CIA, em 1961. Passamos
também sobre a Ciénega de Zapata, que é tipo um manguezal.
Ao chegar em Cayo Largo, fomos
recepcionados por mocinhas que nos serviram coquetéis e nos colocaram colares
de flores. Um ônibus nos levou até a playa Sirena, onde nos ofereceram um
passeio de barco até um banco de corais, a uns 7 dólares. Eles fornecem
máscaras de mergulho, mas o melhor seria se cada um levasse sua própria máscara,
pois as que nos deram não eram muito boas. Na volta, o barco passa na praia onde
iriamos almoçar. Pulei do barco e nadei até a praia. Não façam isso. Essa de dar
uma ponta de um barco em movimento é fria. Me doeu as costas e quase me dá um
mau jeito...
O almoço era lagosta. Sem contar
aquele guisado de lagosta que havia comido antes, essa foi a primeira lagosta
que comi inteira. É gostosa, tem o sabor do camarão, só que mais suave: o sabor
do camarão é mais encorpado e me apetece mais. Aí pelas 14 hs fui para o hotel
da ilha, que cobra 35 dólares a diária. Lá existem também cabanas para alugar,
um pouco mais barato.
A minha volta de Cayo Largo seria
para Havana, conforme havia comprado o pacote.
Saiu um avião lotado para Havana e o nosso sairia pouco depois para
Varadero. Deixei claro que queria ir para Havana. Tudo esclarecido, fomos para
Varadero, onde todos desceram. Prossegui para Havana, somente eu e um outro
passageiro, um cubano. Em Havana, pousamos em um aeroporto diferente do
internacional. Minha última noite em Cuba foi no Hotel Caribean, a 11 dólares,
sem café. Era um hotel muito simples, com vários andares, porém o elevador não
funcionava. No banheiro do quarto não havia tampo nem assento no vaso e a
descarga não funcionava. Porém havia um providencial balde ao lado. Logo que eu
cheguei, não entendi o porquê daquele balde ali. Os lençóis estavam limpos e a
mobília incluía um ventilador e um rádio. No saguão do hotel havia um pequeno
refeitório, onde serviam algo pela manhã. O hotel fica localizado no Paseo
Marti, na Havana Vieja. Era minha última noite em Cuba e retornei ao Floridita
para jantar bem. Sentei e logo pedi um daiquiri. Comi um Filete de Pescado
Almendrino (com amêndoas) com purê, pan y mantequilla. Veio o pão com manteiga
e um segundo daiquiri. Quando chegou o peixe, me atraquei nele com desejo que
ele não acabasse, de tanta fome. Para finalizar, uma torta de sorvete e café.
Gastei 13,6 dólares nessa última janta. O Floridita fica numa esquina. O salão
de entrada é relativamente grande, com um balcão e banquetas à esquerda e
algumas mesas à direita. No fundo, subindo um degrau, está um salão redondo com
umas 25 mesas. Na parede do fundo há um grande quadro que mostra uma vista do
porto. As garçonetes são muito eficientes e prestativas. Já o maitre, como
regra, é uma figura antipática, meio careca, com um jeitão mafioso. É com ele
que se fala ao entrar – El Capitán. Ele te indica a mesa e depois vem tomar o
pedido do cardápio. Pergunta se não vai querer um coquetel de lagosta ou de
camarão ( fala un cotê ). Pergunte o que
era um cotê? Aí ele me perguntou se eu não sabia o que era um cotê. Acabei
entendendo o que ele queria dizer. Perguntou também se eu queria uma ensalada.
Na hora de trazer a conta, cochichou algo com a garçonete, que me veio impingir
uma dose de rum, ao que agradeci.
Dia 6/5. Levantei as 7 hs, desci
para comer algo e tomei um taxi para o aeroporto, que fica a uns 20 min. O
aeroporto estava num estado ruinoso, cheio de goteiras ativas, mesmo sem estar
chovendo. O voo para Lima saiu com 10 minutos de atraso. Era um Ilyuchin da
Cubana, com assentos muito apertados. A viagem durou 4h45min e foi servido um
almoço a bordo, com uma carne borrachenta, parecia uma carne de sopa, com
aparência e sabor suspeito. Depois de comer aquilo, fiquei me sentindo mal, com
uma bola no estômago, e pensei que fosse botar tudo para fora antes de
aterrissar. Senti saudades da Varig, no trecho Rio/Panamá.
Em Lima, possuía reserva no
Sheraton, a mais de 100 dólares a diária. Depois de conhecer um pouco o centro
de Lima, voltando ao hotel e vendo os massacrantes anúncios na tv (comprem,
consumam, cartão VISA, etc.) percebi a semelhança que nos identifica de uma
forma comum na América Latina: a dominação cultural do sistema capitalista cristão.
Existe falta de saneamento, de cultura, de democracia em si, como sendo o
direito das pessoas poderem viver uma vida com acesso às coisas básicas. Uma
falta de caráter dos governantes que não fazem nada pelas pessoas, pela
sociedade. Se o sistema socialista que eu vivenciei nesses últimos dias não me
agradou em muitas coisas, achei louvável ver que as crianças têm o direito a
educação, os governantes lá estão realmente comprometidos com isso. As crianças
estão com seus uniformes, seu material, o transporte até a escola, estão bem
alimentadas e com saúde. E a garantia de educação e saúde não é privilégio do
sistema socialista. De nada valem os discursos se não existe a ação. Isso foi o
que eu vi de mais especial nessa viagem. Os discursos do Brizola, CIEPS, podem
ser demagógicos, mas ele está certo. Governantes, calem a boca e hajam, façam
coisas. E tudo deveria começar pelas cidades, os governos municipais. Os
prefeitos e suas administrações tem o poder do desenvolvimento social, se
quiserem...
Macaé, maio1987
Acima, o Malecón visto do Hotel Deauville. Ao fundo à esquerda o forte Castillo del Morro. Abaixo, vista da cidade, com o Capitólio, a partir do hotel.
Acima, estudantes. Abaixo, dona Ana e os seus colegas do Comite de Defesa da Revolução.
Acima, as calçadas cobertas do Palácio do Governador; abaixo, o interior do Palácio.
Acima, Vale de Viñales. Abaixo, o hotel onde almoçamos.
Casas de veraneio da Playa del Este
Finca Vigia: casa de hóspedes. Abaixo, idem, com a casa principal ao fundo.
Finca Vigia
Finca Vigia
Finca Vigia. Abaixo, a estrada para Playa del Este
Rua de Varadero. Abaixo, mansão dos Dupont
Falésias de Varadero. Abaixo, Restaurante no Parque Icacos
Casarão em Varadero, Abaixo, praia
Abaixo, igreja em Isabela de Sagua
Acima, decolando de Varadero rumo Cayo Largo. Abaixo, a Baia dos Porcos ao fundo.
Cayo Largo
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