A vida é cheia de coincidências, as vezes dramáticas: tinha terminado de retocar o texto na madrugada de sábado e comecei a anexar algumas fotos que fiz na viagem. Ainda era a época das máquinas fotográficas que usavam filme, portanto se tiravam poucas fotos, dois ou três rolos por viagem. Acordei hoje (26/11/2016) com a noticia da morte do Comandante.
A silhueta de Fidel, abaixo, foi tirada da ZH, mas passei para o negativo.
Diários de uma viagem ao país de Fidel
Estávamos sob o governo Sarney, com o Plano Cruzado e a esperança de controle da inflação. Havia entrado na Petrobras em 1985 e em 1987 iria tirar minhas primeiras férias. Em janeiro de 1987 comecei a programar as férias para abril.
Ouvira muito falar do porto livre do Panamá, que era tipo uma Zona Franca de Manaus, só que muito melhor, onde se poderiam comprar máquinas fotográficas a preços baixos, sem os impostos exorbitantes a que estávamos, e estamos até hoje, submetidos (desde Tiradentes não mudou nada, até piorou, ele que morreu por isso...). Depois iria conhecer o México e por fim a ilha de Cuba. Uau!!! O Brasil acabara de reatar relações diplomáticas com Cuba e eu estava querendo conhecer aquele país fascinante, que estava na mente da maioria das pessoas dos anos 50 e 60.
Os contatos iniciais para a
entrada em Cuba foram com a CUBATUR, o escritório de representação comercial
daquele país, que recém havia se instalado no Brasil, em São Paulo , na rua Alves
Guimarães, 837. Meus contatos eram com o sr. De Lísio (pelo menos assim entendi seu nome)
e com a srta. Acela. Através deles fechei um pacote de 14 dias em Cuba, dos
quais sete dias seriam em Havana, com um hotel reservado (Hotel Deauville), e mais sete
dias em aberto, os quais eu reservaria por lá, comprando outro pacote no
local. Também com eles eu comprei as passagens, via VARIG, no trecho Rio-Panamá,
Panamá-México e México-Havana pela Mexicana. E na volta, como não havia linha
direta com o Brasil, a Cubana me levaria até Lima e de lá, novamente pela VARIG,
para o Brasil. A entrada no Panamá exigia um visto no consulado que ficava em
Copacabana, lugar que eu achei meio mafioso. Lembro que paguei umas taxas altas
pelo visto panamenho.
O voo saiu dia 9/4. Era um DC-10
da VARIG, que saiu as 11:20 da manhã. Tenho esses detalhes registrados em uma
agenda que fui escrevendo com o desenrolar da viagem. Com 1h:30 min de voo, o avião estava sobrevoando campos e rios e supus estar a 1300 ou 1400 km do Rio de Janeiro.
As 15:00 hs deu para perceber que estava sobrevoando a Amazônia e calculei
estar a uns 3200 km
do Rio.
PANAMÁ - O Panamá tem um fuso de 2 horas menos que o
Brasil. Peguei um taxi e fui para o hotel Veracruz, calle 30, Ave. Peru 25, que
ficava a uma quadra da embaixada americana daquela época. Não tinha muita
certeza do nome ou do endereço do hotel e só fui redescobrir seu endereço em
2019, ao encontrar um papel de carta do hotel, que encontrei ao arrumar uma
gaveta da mãe.
No térreo havia um bar onde tomei uma cerveja a um dólar. A garrafa era do tipo long neck, que ainda não existia no Brasil. E com tampa de rosca, que também não havia ainda por aqui. Um detalhe curioso é que no vidro da base da garrafa, havia um encaixe, para que se pudesse abrir a tampa de outra garrafa. Então podia se abrir uma garrafa com outra, sem precisar machucar a mão tentando abrir a tampa de rosca.
No térreo havia um bar onde tomei uma cerveja a um dólar. A garrafa era do tipo long neck, que ainda não existia no Brasil. E com tampa de rosca, que também não havia ainda por aqui. Um detalhe curioso é que no vidro da base da garrafa, havia um encaixe, para que se pudesse abrir a tampa de outra garrafa. Então podia se abrir uma garrafa com outra, sem precisar machucar a mão tentando abrir a tampa de rosca.
No dia seguinte contratei um
taxista para me levar a conhecer a cidade. Por US$ 100 ele me levou até as
ruínas da antiga cidade do Panamá, que foi destruída pelo pirata inglês Henry
Morgan em 1671, depois que ele atravessou a pé o istmo, vindo do lado Atlântico.
Depois fomos até a eclusa de Miraflores, no início do Canal do Panamá e demos uma volta em umas áreas residenciais novas da cidade. Ele me deixou na
rua do comércio, nas lojas de importados: fui às compras. Procurei preços das
máquinas fotográficas e me decidi por uma Canon T80, a primeira geração das
máquinas com foco automático a motor, que custou US$ 440.00. Por essa época estavam
lançando as primeiras máquinas TTL com lentes servoassistidas para foco
(autofoco) e essa era uma delas. Era uma rua cheia de lojas de importados, em geral
com proprietários árabes (turcos?). Depois da compra eles me falaram que não poderia sair
da loja com a máquina. Ela deveria ser resgatada no depósito do aeroporto,
quando da partida do turista. Só assim para conseguir o desconto da Zona
Franca. Achei muito estranho isso e pensei que estavam me levando no bico, mas
fazer o quê?
No dia seguinte, no aeroporto,
procurei o serviço de entrega de mercadorias. Acompanhei um sujeito que me
conduziu por uns corredores, descemos uns dois andares e saímos em um porão, no nível da pista, onde havia alguns depósitos com grades de tela. Ele entrou em um desses
depósitos e me trouxe um pacote. Abri e lá estava a máquina que eu havia
comprado. Muito sinistro...
Acima e abaixo: ruínas da antiga cidade
Acima: casco viejo, a parte tradicional da cidade do Panamá.
Acima e abaixo: Zona do Canal, ainda era norte americana
Acima, orla da Av. Balboa desde La Patilla (1987)
CONTINUA...
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